Crise de Estado no Brasil: o “Golpe Frio”

Centenas de milhares de pessoas Contra o Golpe  protestaram na sexta-feira à noite em todo o país... 
Avenida Paulista dia 18 de março de 2015  
































Manifesto em Campo Grande MS dia 18 de março 

Os oponentes de Lula parecem ter conseguido aquilo em que sua frágil sucessora Dilma Rousseff falhou desde que tomou posse: re-aglutinar ao Governo a base do Partido dos Trabalhadores do Brasil, os sindicatos e os movimentos sociais
Centenas de milhares de apoiadores de Lula protestaram na sexta-feira à noite em todo o país contra a tentativa de forçar a saída da presidenta de seu cargo por meio de impeachment (Impeachment). Na Avenida Paulista, em São Paulo, que é considerado como um termômetro para os protestos, eles ocuparam onze quadras da cidade. As manifestações permaneceram calmas e Lula, conciliador, ele se absteve de ataques contra o sistema judicial e fez um chamado para o diálogo. Discursos de ódio raramente podiam ser ouvidos nas manifestações no Rio e em São Paulo. Ao contrário do protestos em massa contra o governo na semana passada em massa, aos quais se juntam cada vez mais golpistas, extremistas de direita e intolerantes. Eles não representam a maioria dos manifestantes, mas eles ganham popularidade. Isto é preocupante para a ainda jovem democracia brasileira.

Pela primeira vez desde o fim da ditadura militar em meados dos anos oitenta, uma crise política que poderia destruir muitas das realizações dos últimos trinta anos ameaça o maior país da América Latina. Parte da oposição e do Judiciário jogam lenha, juntamente com o poderoso grupo empresarial da TV Globo, em uma verdadeira caça às bruxas contra o ex-presidente Lula.

Sérgio Moro, um ambicioso juíz de Curitiba, no Sul do Brasil, aparentemente, tem apenas um objetivo: colocar o ex-presidente atrás das grades. Moro conduz o inquérito sobre o escândalo de corrupção que cerca a empresa petrolífera estatal Petrobras, envolvendo centenas de executivos, lobistas e políticos, incluindo vários altos representantes do Partido dos Trabalhadores de Lula.

Como um furacão, o juiz varreu a elite política e econômica do Brasil. Ele descobriu bilhões em corrupção. Mais de cem suspeitos estão na prisão, a maioria sem condenação. Muitos brasileiros celebram o juiz como um herói nacional.

Poucas Provas

Mas nos últimos meses, aparentemente o sucesso subiu à cabeça de Moro. O juiz faz política, o que não é para ele. A publicação de conversas telefônicas interceptadas entre Lula e Dilma poucas horas antes da nomeação de Lula como Ministro-Chefe da Casa Civil serviu para fins políticos e foi juridicamente duvidosa, para dizer o mínimo.

Moro até agora não tem sido capaz de alinhavar uma acusação contra Lula, embora dezenas de promotores e agentes federais em Curitiba tenham passado meses vasculhando as finanças e condições de vida pessoais do ex-presidente. As provas são ainda muito escassas.

Lula não tem milhões na Suíça, como o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Cunha é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e um juiz de Corte Superior a ele se referiu como um criminoso. Mas isso não o impede de manter a presidência da Câmara que é responsável pelo impeachment da atual presidenta.

Nesta honorável Câmara, tem assento, entre outros, um ex-governador do estado de São Paulo que foi condenado na França por acusações de corrupção, mas não foi entregue pelos brasileiros em extradição, por ser brasileiro.O fato de que tais figuras tenham um papel chave para derrubar uma presidenta que não possui nenhuma culpa anterior mina a legitimidade de todo o processo.

Partidários de Lula alertam contra um golpe frio contra a democracia brasileira. E essa preocupação não surge do nada.


por Jens Glüsing, no Der Spiegel | Tradução: João Guilherme Granja




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